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Monumento ao tropeiro: uma homenagem aos corajosos de outrora

Monumento ao tropeiro: uma homenagem aos corajosos de outrora

Um dos atrativos turísticos que o município de Rancho Queimado tem é o famoso Monumento ao Tropeiro, construído pela comunidade de Taquaras. Localizado em Navalhas, no alto do morro, o monumento perfila entre as montanhas e se destaca, imponente, anunciando a chegada do turista ao Distrito de Taquaras, aos que vêm via BR 282, sentido Boa Vista.

À época de sua construção, a comunidade de Taquaras percebeu a necessidade da valorização deste personagem, o tropeiro, desbravador de outrora e que muito contribuiu com a cidade de Rancho Queimado, que foi rancho de pouso daqueles viajantes naquela época. O chamado “Caminho das Tropas” entre Desterro (atual Florianópolis) e Lages, no Planalto Catarinense, tinha no seu trajeto as terras do nosso município.

Ao pesquisarmos sobre a historicidade catarinense, percebemos a onipresença dos tropeiros, dos alemães e dos indígenas por toda esta região, atestando assim a importância histórica que a localidade tem para o Estado. A figura emblemática dos batedores de mato, os “caçadores de bugres”, em especial do algoz Matinho Bugreiro, as batalhas entre branco e índios, a presença de um governador que aqui fixou residência na primeira década do século passado, a instigante e envolvente história da índia que sobreviveu ao horroroso massacre – a índia Sophia, a luta dos imigrantes alemães  e o percusso dos tropeiros, foram importantes na formação da cidade e ainda hoje avivam toda a História de Rancho Queimado.

LUZ (1999) no livro Os Fanáticos (p.105) cita: “em 1901 a estrada que partia de Florianópolis só chegava até Taquaras; daí para diante só se podia viajar a cavalo” comprovando que aqui, em Rancho Queimado, havia naquela época um intenso comércio e serviço de hospedaria, o que podemos comprovar ao analisar a história do Distrito. Rancho Queimado foi mesmo rancho de pouso dos tropeiros do trajeto Lages-Florianópolis. O rancho não existe mais. Apenas na lembrança daqueles e no nome da cidade. Do rancho só restam as memórias. Um povo sem memória é um povo sem história. Assim, surgiu na década de noventa um intenso fomento de valorização histórica e cultural na comunidade, dando origem assim à Festa do Morango e de todo o processo de desenvolvimento que temos até os dias de hoje.

O Monumento ao Tropeiro, à época da sua inauguração, foi um marco de produção cultural no município. O falecido maestro José Acácio Santana compôs para a ocasião uma música que foi interpretada e posteriormente gravada pelo Coral de Rancho Queimado. Ei-la aqui:

Tropeiro do nosso passado
Letra e música: José Acácio Santana
 
O tempo, que passa ligeiro,
levou o tropeiro que fez nossa História.
Parece que estou escutando o berrante
tocando na minha memória.
 
Tropeiro do nosso passado
por todos lembrados em feliz tradição.
A força da tua passagem mudou
a paisagem do nosso sertão.
 
Tropeiro de grande coragem,
fizeste a viagem da história futura.
Tu és uma forte lembrança
Que fica de herança em nossa cultura.
 
Eia boi, eia boi, eia boi…
 

Também, no ato de sua inauguração, uma belíssima obra, de autoria do Senhor Florisvaldo Diniz, foi recitada pelo autor.

O TROPEIRO

O mercantilista brasileiro do século XIX a princípios do XX

Vales, coxilhas, selvas findas a céu azul,

vencidas foram, “a priori”, por bandeirantes.

De Leste ao Oeste e de Norte até o Sul,

rasga-se em trilhas este Brasil gigante:

na caça da prata, do ouro e da esmeralda;

do bugre para a mão-de-obra dos engenhos,

levando fronteiras a lugares distantes.

No entanto, se ao longo das serras e campinas

que irmanam Minas aos Pampas do Rio Grande,

São Paulo, Paraná e Santa Catarina,

perpetuam-se trilhas fundas e pousadas,

outro, sequer, não há quem os patrocina,

que não seja o bravo anônimo TROPEIRO

a tropear no mister pendão de sua sina.

Dias e noites, incessantes, por meses afora,

montados a cavalo, e muito pouco a pé,

ia o TROPEIRO de sesteada a sesteadas,

resoluto, destemido, em ânimo e fé,

conduzindo tropas de mulas e boiada,

sob o risco presente das grotas – o sopé,

e do imprevisível estouro da manada.

Folclórica, sua maneira bem trajada;

inconfundível no poncho e na bombacha;

calçado de botas e esporas serrilhadas;

envolta à cintura a guaiaca, onde se acha

a garrucha e o facão, na defesa da estrada;

surrão à sela e guampa cheia d’água ou cachaça,

que faziam do TROPEIRO o rei da tropeada.

Como única forma de mercancia ativa,

entre o litoral e as vilas do Planalto,

sustentava as capitais e toda a sua vida

de comércio próspero, lucrativo e alto.

Também, junto ao colono que se efetiva,

nas diversas linhas só da imigração,

e que fez das tropas sua imprescindível amiga.

Sobre as mulas de carga, firme à cangalha,

alforjes pendurados, ou grandes bruacas,

fortemente amarrados e sem qualquer falha,

vendia-se o charque seco ao sol sobre estacas;

o queijo gordo curado e chapéus de palha;

pinhão, couro curtido e bainhadas facas;

e, dentre outros, o melhor da lã em fio e malha.

Vendida a carga e após desmonte da tenda,

recarregados se faziam os animais:

geralmente com produtos sob encomenda

de comerciantes que, de formas gerais,

em cada pousada mantinham sua venda,

como únicos exclusivistas comerciais

do TROPEIRO, nas distâncias de sua senda.

Assim, fora do Império a fins dos anos trinta;

pousadas viraram vilas, após cidades

ligadas entre si de forma distinta,

porém, qualificadas por identidade

de uma origem mesclada, dura e absinta,

forjada ao labor de boa qualidade

e sofrimento, que não há quem pressinta.

Dentre as dezenas múltiplas de pousadas,

pontos certos dos descansos dos TROPEIROS

no suor e na coragem una e indomada

dos Imigrantes, originários estrangeiros,

nasceu TAQUARAS, forte, bela e bem amada

dos que aspiram seu perfume feiticeiro,

e se espelham na paisagem inigualada.

Vive TAQUARAS, e mais há de viver

enraizada nos teus caminhos d’outrora:

a progredir, a insistir, a resistir e vencer

para os daqui e filhos que se foram embora,

dando exemplos de coragem, fé e saber;

assim como ontem foi, haverá de ser agora,

e sempre, nada há, pois de a interromper.

Houveram, de TAQUARAS, filhos TROPEIROS

que lhe deram muitos anos de fartura

cujo reconhecimento, alvissareiro,

a COMUNIDADE, para prova futura,

ergue neste tico de chão brasileiro,

em testemunho de tua ímpar bravura:

teu monumento, ó fraterno pioneiro!

 Florisvaldo Diniz

O Monumento ao Tropeiro é um dos marcos de todo esse trabalho que a comunidade de Taquaras desenvolveu para que se fomentasse o indústria verde – o turismo, para que se projetasse a cidade e para que os moradores daqui buscassem uma Identidade. Além da Festa do Morango se realiza aqui em Rancho Queimado, todos os anos, em julho, a famosa Festa do Tropeiro, com gastronomia e música típica, além te uma famosa cavalgada pelos antigos “Caminhos das Tropas”. Visite Rancho Queimado, conheça o Distrito e não deixe de registrar uma bela fotografia no alto do morro de Navalhas, junto ao Monumento – o primeiro do Brasil! É isso!

Jonei Bauer:

O texto acima é de inteira responsabilidade de Jonei Bauer, não expressando necessariamente a opinião do Portal do Rancho.

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