O termo “alemão batata” pode nos revelar muito mais do que apenas um adjetivo pejorativo, como forma de menosprezo aos descendentes alemães. Afinal, alemão gosta mesmo é de batata! Surgido nos Andes e nas Ilhas Chilenas, esse tubérculo foi levado para a Europa no século XVI e tornou-se base da alimentação, sendo um ingrediente indispensável à mesa alemã.
A comida é um elo de identificação entre os indivíduos de um mesmo grupo social, identificando-os a uma mesma cultura. Nesse sentido, a comida passa a ser considerada muito mais que um simples fator de necessidade fisiológica, estando ligada diretamente a um fator de identificação cultural. A tradição é afirmada pela sociedade quando ela reconhece um produto com algo característico de um determinado grupo étnico.
A Culinária Como Noção de Patrimônio
A culinária é uma das maneiras de preservação dos hábitos e costumes que herdamos dos nossos antepassados. A comida sempre esteve ligada ao modus vivendi do homem. As dádivas sob forma de comida sempre tiveram um papel importante nas sociedades tradicionais para estabelecer e reforçar os laços de solidariedade entre os indivíduos de uma mesma sociedade. Quando pensamos em momentos rituais ou cerimoniais o alimento é um elemento fixador psicológico do plano emocional e comer certos pratos é ligar-se ao local ou a quem o preparou.
Ao se observar a História da Alimentação, os indivíduos de um mesmo grupo social sempre procuraram manter hábitos e costumes que acabaram se tornando intrínsecos e naturais ao cotidiano deles, ou seja, tornaram-se práticas culturais. Como já falei em outro texto, a comida também é patrimônio, onde, os hábitos alimentares são definidos principalmente por conjunto de regras sociais. Regras estas que influenciam na seleção, no consumo e na interdição de certos alimentos e que envolvem critérios para a sua preparação e ritual para seu consumo o que evidencia o seu caráter simbólico.
Delícias da Cozinha Alemã: Comida Também é Patrimônio
A convivência à mesa é quase sempre um sinal de proximidade, confiança e fraternidade. Quando recordamos as nossas próprias memórias, geralmente lembramos dos almoços em família, da mesa farta, cheia de “receitas de vó”. Algumas comidas estão enraizadas dentro de nós, identificando e sendo identificadas e, em relação ao grupo de alemães não é diferente.
Uma das receitas nominadamente mais típicas da culinária alemã é a Kuchen, ou cuca. Trata-se de um bolo coberto por uma farofa crocante, à base de manteiga e que está naturalmente enraizada na memória de todos, atribuindo-lhe um lócus privilegiado entre as memórias gastronômicas alimentares da cultura alemã. A Kuchen está tão difundida no cotidiano da cultura alemã que nominadamente, muitas já a consideram um patrimônio alimentar. Outras receitas também são muito famosas entre os descendestes alemães, como o recheio alemão, o brezel e o bolinho de batata.
Bolinho de Batata: Impossível Comer Apenas Um!
Uma iguaria amplamente conhecida pelas famílias de origem alemã no Brasil é o bolinho. Ele está presente em qualquer refeição. O bolinho trata-se, geralmente, de uma mistura de ovos, farinha e leite acrescidos de algum elemento que lhe dá o nome, ou seja o sabor. Assim, nas mesas alemãs sempre temos os bolinhos de arroz, de alface, de espinafre e, um dos mais conhecidos, o bolinho de batata!
O bolinho de batata é uma iguaria amplamente difundida na Alemanha. Conhecido por Kartoffelpuffer, pode ser literalmente traduzido por “panqueca de batata” e que aqui no Brasil entra no rol dos bolinhos que a Oma fazia, uma receita passada de geração em geração. Na Alemanha, o bolinho de batatas também pode ser conhecido por Reibekuchen ou Kartoffelpfannkuchen.
O bolinho de batata trata-se de uma massa rústica e achatada – lembrando uma panqueca, e que leva em sua composição batata crua ralada, ovos, leite e condimentos. Pode ser servido ainda quente ou frio e com acompanhamentos tanto doces quanto salgados (alemão adora um agridoce!).
Antes que se deem por totalmente perdidas as receitas tradicionais, precisamos entender que a alimentação humana é muito mais do que um fato biológico, mas um ato social e cultural. O ato de comer implica representações simbólicas decorrentes da rede de relações sociais que identificam o alimento a uma determinada sociedade ou a algum segmento dela. O alimento se constitui em um produto cultural, pois é por meio do alimento e da alimentação que o homem se revela e revela seu grupo social.
Nesse sentido, a comensalidade passa a ser uma forma de sociabilidade, onde, por meio da alimentação podemos estabelecer um rede de relações sociais específicas, oriundas do momento em que a alimentação se liga ao prazer de cozinhar e de trocar ideias sobre a comida. O bolinho de batata certamente ocupa um lugar de memória especial, ao descrevermos a noção de comensalidade entre as tradições alemãs que herdamos de nossos antepassados. Presente na mesa de muitas famílias alemãs, é sempre motivo de festa e de comida boa!
RECEITA DE BOLINHO DE BATATA
Existem muitas receitas de bolinhos de batata e como todas as receitas alemãs, o segredo sempre é o tempero familiar. Assim, cada família tem a sua variação da receita, acrescentando condimentos de acordo com os gostos de cada um.
Ingredientes:
10 batatas
1 cebola
2 ovos
300g de farinha de trigo
sal a gosto
Preparo:
Descasque as batatas
Rale as batatas diretamente em uma vasilha com água fria para não oxidar
Rale ou pique bem pequeninho a cebola
Retire as batatas da água
Bata os ovos
Misture bem todos os ingredientes
Tempere a gosto
Frite porções pequena em um dedinho de óleo
___________________________
Referências:
- BAUER. Jonei. Plano Municipal de Cultura. Tríscele, 2018.
- DEMETERCO, Solange Menezes da Silva. Doces lembranças: cadernos de receitas e comensalidade: Curitiba: 1900-1950. 1998.
- REINHARDT, Juliana Cristina. Alemães, comida e identidade: uma tese ilustrada. Máquina de Escrever, 2014.
- KUCHEN (CUCA) – UM BOLO ALEMÃO?