As práticas alimentares sempre foram um elo de identificação entre os indivíduos de um mesmo círculo social. Nesse sentido, a culinária passa a ser entendida além de uma necessidade fisiológica, mas sobretudo, um fator de identificação cultural. Trata-se de uma das maneiras de preservação dos hábitos e costumes que herdamos dos nossos antepassados. Em outras palavras, a comida também é patrimônio.
Em algumas sociedades, o aspecto gastronômico torna-se preponderante, especialmente quando o objetivo é atrair amigos, parentes, clientes. A convivência à mesa é quase sempre um sinal de proximidade, confiança e fraternidade. Nesse sentido, a comensalidade passa a ser uma forma de sociabilidade, onde, por meio da alimentação podemos estabelecer um rede de relações sociais específicas, oriundas do momento em que a alimentação se liga ao prazer de cozinhar e de trocar ideias sobre a comida. Afinal, é normalmente em torno de pratos elaborados e mesa farta que se configura o ritual da comensalidade.
A Cozinha Alemã: Receitas e Memórias Gastronômicas
A cultura alemã, quando da instalação das suas colônias em terras brasileiras, trouxe consigo hábitos e costumes que continuam até os dias atuais. Muitas receitas sobreviveram após muitas gerações, passando-se os segredos culinários entre as gerações – sauve faire; outras, sofreram pequenas adaptações, mas continuam .
Uma das receitas nominadamente mais típicas da culinária alemã é a Kuchen, ou cuca. Trata-se de um bolo coberto por uma farofa crocante, à base de manteiga e que está naturalmente enraizada na memória de todos, atribuindo-lhe um lócus privilegiado entre as memórias gastronômicas alimentares da cultura alemã.
A Kuchen está tão difundida no cotidiano da cultura alemã que nominadamente, muitas já a consideram um patrimônio alimentar. Outras receitas também são muito famosas entre os descendentes alemães, como o recheio alemão, o brezel ,o bolinho de batata e a chimia de ovo.
Schmier de Ovo com pão
Uma iguaria muito comum à mesa nas colônias alemãs é um doce a base de ovo e açúcar, conhecida por chimia de ovo. Etimologicamente, a palavra chimia é um aportuguesamento de Schmier, conjugação do verbo alemão Schmieren, que significa “passar [algo] [em outra coisa]”, por exemplo, passar manteiga ou geleia em uma fatia de pão. Nesse sentido, qualquer doce caseiro que se passe no pão é denominado por Schmier, ou simplesmente chimia.
Tradicionalmente, numa mesa alemã existem muitas variedades de chimias de diversas frutas, mas uma chama sempre a atenção pela sua presença: trata-se de uma chimia de cor dourada que ao contrário das outras que são feitas de frutas, leva ovo na sua composição. A Schmier de Ovo faz parte do cotidiano de todos que têm um fator de ligação ou de identificação com a cultura alemã.
Receita de Schmier de Ovo
Ingredientes
4 ovos
1 xícara de açúcar
5 gotas de baunilha
Fio de óleo para fritar em fogo baixo
Modo de preparo
1. Separe as claras das gemas.
2. Bata as claras até ficar em neve, depois misture o açúcar e bata por mais 5 minutos.
3. Depois misture as gemas e as gotas de baunilha, e bata por 5 minutos.
4. Coloque um fio de óleo, na frigideira depois de quente coloque a Schmier e mexa em fogo baixo por 15 minutos.
5. A Schmier quando estiver fritando deverá ficar espumosa, quando começar a espuma abaixar, está pronta este é o segredinho.
Antes que se deem por totalmente perdidas as receitas tradicionais, precisamos entender que a alimentação humana é muito mais do que um fato biológico, mas um ato social e cultural. O ato de comer implica representações simbólicas decorrentes da rede de relações sociais que identificam o alimento a uma determinada sociedade ou a algum segmento dela. O alimento se constitui em um produto cultural, pois é por meio do alimento e da alimentação que o homem se revela e revela seu grupo social.